quarta-feira, abril 25

Picos de Europa-Abril 2007 (1)

Sotres-Naranjo de Bulnes


No dia anterior, o dono do pequeno hotel onde estávamos hospedados, disse-nos depois de inquirido por mim logo à chegada, que não era boa ideia tentar atingir o mítico Picu Urriellu, (conhecido pelos locais como, Naranjo de Bulnes), devido à quantidade de neve existente. Para mim as suas palavras foram um choque, pois este era o principal objectivo desta viagem. À hora de jantar, acende-se uma luz, não para iluminar a sala, mas porque somos informados pelo Manoel, assim se chama o dono do hotel, que um casal que se encontrava ali hospedado tinha subido nesse dia e que podíamos falar com eles, assim fiz, procurei-os e prontamente me disseram aquilo que eu mais queria ouvir. Apesar de haver bastante neve, tinham feito a ascensão sem "crampons", nem "raquetas de neve" e a única coisa que tinham levado era polainas, pois a neve estava muito macia e era possível que nos enterrasse-mos um pouco.A alegria regressou aos nossos corações, pois a possibilidade de cumprirmos o objectivo era agora maior.Partimos de Sotres em direcção aos "Invernales de Texu",("invernales" são pequenos aglomerados de casas onde o gado pernoita no Inverno), tinham nos dito para trazermos os carros até aqui, mas não nos apeteceu mexer mais no carro, pois estávamos cansados dos quase 900km de viajem que tínhamos feito no dia anterior e assim resolvemos deixá-lo no hotel. Descemos aos ditos "invernales", e depois subimos um estradão de bom piso até Collau Pandébano, outros "invernales" um pouco mais acima. Muita gente traz os carros até aqui, poupando assim uma boa hora de caminho e também uns metros de ascensão.



A partir daqui, e como era Domingo e o tempo estava excelente, começamos a encontrar muita gente que nos acompanha no início da rota.Umas centenas de metros mais à frente o estradão acaba e começa um trilho bem marcado, que nos leva aos prados de Terenosa, onde existe um pequeno refugio sem guardas, e a Collau Vallejo. Vemos pela primeira vez o Urriellu. Aqui o caminho deixa de ser um belo passeio de média-montanha e passa a um exigente trilho que se vai tornando a pouco e pouco cada vez mais estreito e empinado, serpenteando por entre pedras e ravinas de assustar o mais destemido. Por algum motivo "Manoel" nos dizia na véspera, que sem "raquetas" não passaríamos daqui, pois neste ponto atingimos os 1500mt e começam a aparecer os primeiros troços com neve.Paramos uns breves minutos numa espécie de promontório para comermos e recuperarmos forças, pois daqui para a frente sabemos que a tarefa não é fácil. Poucos minutos depois de aqui estarmos, chega um grupo de adolescentes barulhentas, que resolve parar também no sítio onde nos encontramos, eram quase só raparigas e vinham a andar muito depressa e a falar muito. Como algumas trazem os seios a pular fora das exíguas camisolas, alcunho-as de "mamonas assassinas" e retomamos o nosso caminho. A pendente aumenta e a neve também, os troços com neve já são mais do que os que não a têm, começamos realmente a subir, daqui ao Urriellu ainda temos de vencer um desnível de mais de 500mt e temos a consciência disso, a montanha envolve-nos, aglutina-nos, o silêncio adensasse e sentimos realmente que aqui não passamos mesmo de uma formiga no carreiro... Passamos por um grupo de 4 ou 5 pessoas que tinham passado por nós quando estávamos a comer e perguntam-me se falta muito, digo-lhes que faltam uns 250mt e uns 2 quilómetros, olho para eles e reparo que estão mal equipados. Uns metros à frente olho para traz e já não os vejo, tinham desistido, as "mamonas assassinas" também há muito que nos tinham deixado, falavam de mais e a montanha preserva o silêncio, é como que uma selecção natural, se não a respeitamos somos excluídos.O grande problema é que quando não há neve o trilho progride em zig-zag, mas quando há neve temos a tendência para seguir as pegadas ,até por uma questão de segurança, mas o caminho das pegadas é normalmente desenhado a corta-mato como uma recta,(viemos mais tarde a saber, que tinha sido o guarda do refugio a abri-lo no fim-de-semana anterior) o que torna a ascensão bem mais difícil. Se a inclinação do trilho em zig-zag, já é grande imaginem em linha recta.


Mais uns 45 minutos de subida e estamos aos pés do Urriellu, olho para cima e arrepiasse-me os cabelos dos braços, é impressionante estamos a quase 2000mt de altitude e temos uma parede de rocha por cima das nossas cabeças, com cerca de 500mt de altura o que dá um total de 2519mt.Subimos mais uns metros e entramos num pequeno planalto, é a "Vega de Urriellu", vemos o refugio de Ubeda e não cabemos em nós de satisfação o nosso objectivo estava atingido, tínhamos subido cerca de 1000mt em 9km, é obra.

As fotos estão no sítio do costume... e também vai haver uns videos



2 comentários:

medronho disse...

Muitos parabéns pela "aventura" :)

Fiz a subida ao Naranjo no ano passado, mas optei pelo trilho Poncebos - Bulnes - Naranjo.

Este fim de semana vou voltar aos Picos, mas vou para o outro lado... Pra Fonte Dé...

http://umpardebotas.blogs.sapo.pt

Vazcosta disse...

Esse trilho é muito mais dificil,pois são 1700mt de desnivel.Aproveito para dar umas dicas,se estás a pensar fazer a travessia de Fuente Dé para o Urriello não o aconselho pois há muita neve e á perigo de avalanche nos Horcados Rojos.A neve está muito macia em alguns sitios pode fazer falta "raquetas","crampons" não fazem falta pois não há gelo.
Obrigado pelo comentário, e boa viajem.
PC